Sobre coisas que são

De tudo que quis, nada que me reste.
Sonhos são reprogramados em poesia
Para descolorir os dias, transformá-los,
E transpor o limite das palavras pensadas

Descompliquei os versos
Me confundi com a rima, saboreei
Sofri com o ritmo, mas dancei
O que era antes espontâneo e risonho, chorei

Tropecei, gritei... Desfiz o compasso
E para que?
Essa música é apenas mais uma
E minha voz é pouca

Ao julgar insanas as próprias palavras
A gente se perturba e se mistura aos outros
Somando ou subtraindo os próprios temores juvenis,
Para entornar a reflexão em um único gole

Não, não era isso
Não era a roda, os olhos, os outros, a bagagem
Não era eu, nem as palavras, nem o vento
Não, não era você, os lábios, risos ou idéias libertárias
Não era a juventude, o gozo, não poderia também ser o álcool

E se não éramos, não fomos,
Mas também não era a ilusão,
Ou mesmo o sofá ou a desordem
E ainda que fosse, não seria... não seríamos.
E não sei dizer o que saberei ter sido, um dia
Nos dias que já não são.

Já que reprimi a contrapartida da porta entreaberta
No canto da sala, no poster do Dylan, nos copos, toalhas e até na Vodka
E também na falta de modos,
Tudo tão seu, tudo tão nosso...
Mas estava frio e a estupidez abriu a janela

Demasiada loucura, mesmo para mim
Mas que seja mesmo só volúpia e dentes,
Porque não sei mais entender de ausência,
E era disso que eu precisava para desistir de não ser.

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