Solar
Perguntei
o que, afinal, ela queria. Um amor ao ar livre, ela disse. Na hora, não entendi
muito bem.
O
certo é que ela vinha se comportando de forma estranha. Pintava o corpo todo de
laranja. Me deixava muito puto. Merda! O que ela pensa que tá fazendo?
Ela
desfilava o corpo nu, úmido e alaranjado e me pedia para comê-la ali, no
tapete. A porra do meu tapete, todo manchado. Cor de jerimum.
Gritei
com ela, sugeri indelicado que ela procurasse um médico que a internasse de
vez. E mais uma porção de bobagens, dessas que a gente se arrepende, quase
sempre.
Ela
respondeu, ofendida, que queria fazer um amor solar em tempos de chuvas. Estava
fora de si.
Trepei
com ela ali mesmo. Sujei a porra toda. O tapete. O sofá. O abajur da minha tia.
Paredes machadas com as digitais dela. Uma simples trepada e ela estava por
todo o meu apartamento.
Chamei-a
de cachorra, disse que ia meter a porrada. Tipo personagem de crônica cafona dos anos 80, não sabia muito bem porque dizia essas
coisas - sigo dizendo coisas que abomino e me assusto comigo esmo. A verdade é que aquilo
estava me deixando louco. Aquele corpo nu, melado de tinta, carimbando tudo.
Marcas solares na parede e no chão. Fiquei completamente transtornado. Nunca a
amei de modo tão torpe e profundo.
Tomou
um banho e saiu atordoada. Estava boquiaberto e patético, sem conseguir dizer
palavra. Nem as indelicadezas e violências de antes. Ela disse que não queria
me ver nem pintado.
É
inegável, ela tem senso de humor.
Eu
fiquei ali, idiotizado. Pubis laranjo. Ainda era nuvem.
Ela queria um amor solar. Eu chovia.
Ela queria um amor solar. Eu chovia.
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