Baixo-ventre
Sob a minha carcaça havia outrora uma mulher
Até que esfíngica letra rabiscada
Em traço pré-escolar
Formou um carimbo quente
Sobre a minha pele.
Uma cicatriz diagonal que crescia na base da barriga,
Um quase caminho pro pubis,
Quase-seta para o umbigo
Marca de navalha, ali
Sem corte pregresso,
E que era uma pergunta repentina
Em traço pré-escolar
Formou um carimbo quente
Sobre a minha pele.
Uma cicatriz diagonal que crescia na base da barriga,
Um quase caminho pro pubis,
Quase-seta para o umbigo
Marca de navalha, ali
Sem corte pregresso,
E que era uma pergunta repentina
E uma dor
fina
de lâmina fantasma.
A tatuagem do além
Era um sinal de uma partição interna, talvez,
Mas certamente era minha.
Vizinha ignorada no elevador
De dentro de minhas vísceras.
Era uma força e uma contrição que passei a levar comigo,
fina
de lâmina fantasma.
A tatuagem do além
Era um sinal de uma partição interna, talvez,
Mas certamente era minha.
Vizinha ignorada no elevador
De dentro de minhas vísceras.
Era uma força e uma contrição que passei a levar comigo,
Me fazia companhia durante o arrastar dos dias,
Me olhava tomar o café, como uma presença quase oculta
Como a rachadura do vaso eterno
Brilhante e adornado,
Que atrapalhadamente quebrei, arrisquei um remendo,
E devolvi à prateleira para contemplar, sem fim, a linha em mim
estendida sobre o tempo.
Espelhos nos invertem, mas era inevitável
Me ver de pé, nua, cada vez mais úmida diante de um reflexo
Oxidado, entregue como presente,
Mal pendurado, torto, meio gozado.
Era meu auto-assombro
Vidrado, tenso, animal, apaixonado.
Depois veio o corte, esse que eu via.
Esse eu sentia, alardeava, comia
Ao que eu me encolhia como centenária, frágil,
mole, cheia de coisas como escamas e chamas
adolescentes, desconcertantes.
Era uma dor, um tremor
Era frio, ardente,
Me olhava tomar o café, como uma presença quase oculta
Como a rachadura do vaso eterno
Brilhante e adornado,
Que atrapalhadamente quebrei, arrisquei um remendo,
E devolvi à prateleira para contemplar, sem fim, a linha em mim
estendida sobre o tempo.
Espelhos nos invertem, mas era inevitável
Me ver de pé, nua, cada vez mais úmida diante de um reflexo
Oxidado, entregue como presente,
Mal pendurado, torto, meio gozado.
Era meu auto-assombro
Vidrado, tenso, animal, apaixonado.
Depois veio o corte, esse que eu via.
Esse eu sentia, alardeava, comia
Ao que eu me encolhia como centenária, frágil,
mole, cheia de coisas como escamas e chamas
adolescentes, desconcertantes.
Era uma dor, um tremor
Era frio, ardente,
Frio
De ranger os dentes
O torpor e o medo
Como alguém a puxar o alarme de emergência
E então quebrá-lo
E ouvir a sirene dentro da cabeça,
Sozinha.
Era uma dor, sem dúvida.
Nela havia súplica e também uma porta
De passagem pra ventura que pulsa dentro.
Um único grito que jorra vida.
Mas eu ainda olhava, grave,
A cicatriz diagonal toda corte-fantasma
Era estranha, riscava um V quase simétrico,
Vermelho arroxeado fluorescente
Como se por piada eu fosse marcada e
Feita dormente, pacífica, paciente,
Separada do resto do rebanho.
Não sou gado - trovejei,
Me prenhei de fúria, som, poema e corretivo
Cor do ventre, humano e meu
Disfarcei a marca e exaltei as estrias sensuais
e femininas.
Era um segredo do cosmo,
De ranger os dentes
O torpor e o medo
Como alguém a puxar o alarme de emergência
E então quebrá-lo
E ouvir a sirene dentro da cabeça,
Sozinha.
Era uma dor, sem dúvida.
Nela havia súplica e também uma porta
De passagem pra ventura que pulsa dentro.
Um único grito que jorra vida.
Mas eu ainda olhava, grave,
A cicatriz diagonal toda corte-fantasma
Era estranha, riscava um V quase simétrico,
Vermelho arroxeado fluorescente
Como se por piada eu fosse marcada e
Feita dormente, pacífica, paciente,
Separada do resto do rebanho.
Não sou gado - trovejei,
Me prenhei de fúria, som, poema e corretivo
Cor do ventre, humano e meu
Disfarcei a marca e exaltei as estrias sensuais
e femininas.
Era um segredo do cosmo,
Um sussurro que eu guardava,
Comigo,
Um código intrapele, o rastro
Alienígena de minha morte,
Um código intrapele, o rastro
Alienígena de minha morte,
Em vida.
A pequena morte
A grande saúde
Uma anunciada dormência, vê
Renasci meio mulher, meio medusa
Meus tentáculos pulsam cor
Eu flutuo, lânguida, lisa
Silenciosa e implacável
Minha pele,
Eu a conecto novamente...
Ela borbulha.
Respira.
Diretamente das fendas
Do meu baixo-ventre.
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