Paleta areia

Dois estranhos conhecidos
E um caminhar de almas, grandes

Olhamos a areia em frente, a água
Que não há
Na matéria.
Fitamos a sua aridez...
Pintada sobre as paredes

Água
Em nós, nos pensamentos
São fontes, cascatas, pororocas
Substâncias geladas, minerais, orgânicas, molhadas
Desertos perfeitamente táteis

Eu escorro, você não alcança
Mas há saibro em meus sapatos
Areia fina em meus cabelos
Descamação, em diferentes níveis, sobre
A minha pele

Demos as mãos anteontem, você sentiu
Mas parece que você esqueceu tudo que era
De sentir

Eu te lembro de olhar comigo
As pequenas passagens e porteiras,
Logo ali no fim da linha. Lembra!

Olhávamos a pedra no deserto, almejávamos o que era livre,

no que era o entorno da pedra.


Há verde, há flores, há plantas domésticas

E pedras

Montanhas, pradarias, pântanos

Pedras

Janelas, mansardas, frestas

Como sempre, pedras

Há nós dois sob escombros

Cascalhos e

Grandes, monumentais, pedras


Nos perdemos

Outra vez

Mas sempre retornamos


Caminhos solitários, sacrifícios diante de terras e entre mares

Com pedras, ali

Envelhecendo conosco

Logo alguns passos atrás de tais oceanos

Irrefreados, a sentir a fragância dos silêncios

Nauseados, secos, refratários

O ardor da pele que já

Descamou, renasceu, descamou.


Pela pedra aprendemos a olhar,

perder

passar

e esquecer.


Pela pedra fomos feitos pedra. Depostos. Sós.

Inéditos, frescos, quentes, com algo de super, algo de entreposto

Entre-desertos

Eu, a mirar os cactos do escritório

Vento de ventilador

Você, a arder cinco sóis e lamentar

Antigos cantos de sereias submersas

Nos bancos de areias

Em bancos encardidos de varandas.


Entre-desertos são entre-mares, lembra?

Você que disse

Enquanto cantarolava

Somos areia e água e vento

O entorno de Grandes Pedras

Do deserto


A gente não soube bem, está dito

Nem eu a ave de rapina, nem você o escuro


Somos grão

Depois que ventou.



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