Em Branco

Um último grito e uma última gota. Repetia em compulsão, numa tentativa auto-persuasiva. Precisava superar o nojo, ir além daquela experiência repulsiva que era encarar o outro. Uma primeira inspiração.

Filosofa ridículo em seu cubículo de existência.

Pessoas se comportam de forma estúpida. [Começa o ritual] Barganham, com a justificativa torpe de que precisam ser amadas.

Cid Moreira.

São fracas e suscetíveis, sim, mas não são, de modo algum, nobres. 

O amor e suas demandas... não são mais do que a manifestação do egocentrismo e da autorreferência. [Esse é sem dúvida o toque de maior requinte das sensações pueris dos que se dizem apaixonados por qualquer coisa. Resignação.].

O amor. A mercearia mais próxima. Semelhantes em sua organização social e eloquência filosófica. 

Não, na verdade a mercearia apresenta uma contrapartida mais palpável por um preço que pode ser acessível a mentes socialmente domesticadas. Já o amor é um produto perecível, malcheiroso antes mesmo que dobremos a esquina.

Sentir é superestimado. [Separe as sílabas]

Levanta num salto e bambeia pela saleta da copa. Algumas necessidades e vícios desmoralizam e afagam. Acende um cigarro.

Masturbação. Álvaro de Campos. Um banco e uma fotografia em tom sépia. Brega. Teoria da relatividade. Aquela vadia de cabelo mal pintado. Peitos. Peitos. Merda, cinza de cigarro e ardência. Einstein no museu. Não, não era um museu. O que era mesmo? Vulvas. Um instalação de copos de geleia em forma de... 

Isso não faz sentido. Não, eram vulvas!

Retomando, a mercearia como uma espécie de terrário. Um pequeno e complexo ecossistema. Muito científico.

A existência não é mais que a mercearia. Metafísica da loja de doces. Que me lembra...

Um velho arranca a cabeça da serpente com um dente. Não um, todos. Uma colina. Alegoria da sociedade o-ci-den-tal. Muito importante. Nós, enquanto pessoas inseridas em um contexto X (pensar em algo interessante para dizer no Tonho`s) podemos ser mais do que um sistema binário qualquer. Reprodutibilidade! Eureca!

Como é mesmo aquela piada sobre o Benjamin? 

Na verdade, eu não fui claro sobre os meus sentimentos. Mas foi com as melhores intenções. [Aquela coisa de culpa moralizante que as mulheres adoram.]

É só falar da falta de pertencimento. Do alheamento. Do despropósito que se tornou essa minha existência. Ela vai me odiar.[Depois do existencialismo, um lapso de qualquer coisa heideggeriana que ela não vai entender.]

Talvez ela ainda queira me chupar.


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