Do Metal e do Vento

Caminhava entre as paredes do quarto que antes já fora um refúgio de amor adolescente. Era o que eu queria acreditar. Se eu fosse esse cara.

Agora não havia tantas cores, armários, cheiro de chiclete e gozo ou aquela espontaneidade segura. O cômodo parecia estranhamente ovalado. Visualmente, não era mais que um borrão.

Tudo ali era tortuoso, indefinido e estranhamente cético. Mas seus seios ainda apontavam para a lua.

O despir é correto, limpo, cirúrgico. Mãos e joelhos se encontram. Cheiro de alfazema. Parecia uma brisa.

Havia esquecido, ela flutua ao caminhar. Era como se não fosse dali. Era como se não fosse de lugar nenhum.

Ensaio algo interessante para dizer. Sedutor, sem parecer afobado. Denso, sem qualquer coisa de arrogante. Suor. Náusea. Volto a ter 15 anos. Ela ainda flutua. Toda ela como uma brisa. Vaporosa. Eu me levanto e tento conduzí-la, mas meus pés estão cravados na terra.

Seu cabelo vem abaixo como se lambesse o universo. Ela, o vento. Eu, metálico, tilintando por quinas e curvas que me levam e separam do toque.

Ela me envolve com todos os seus cinco braços. Quase me afogo. Me perco. Ainda pesado e torpe, ao me ver ali, explorado e exposto, revisito lugares em mim que não fazem sentido. Sucumbo.

Eu, mobília. Eu, metal. Corroído pela brisa. Eu, um sono pesado. O sono dos injustos. Eu, antiquário. Velharia. Eu, tanque. Bélico. Eu, carne pútrida. Vermes. Eu, cubos. Retas. Eu.

Ela, o vento.

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