Carta para Ana C
Oi, Ana,
Desculpa te chamar assim… É que acho esse som, Ana, só Ana, tão forte quanto Cesar. E não sei se as tantas Anas que existem se dão conta.
Hoje não me sinto tão forte, sabe? E por isso, talvez, a ideia de força me repercuta tanto. Escrevo, de mim a você, em um dia cinza e molhado, e quente. E só quem vive o Rio nos seus melhores e nos seus piores sabe o que digo. Acho, você soube. Sinto que entenderia.
Eu não sabia por onde começar. Essa expressão de um pulso entalado. Sei lá quantos anos, preso. É tão clichê ser uma mulher em silêncio cínico. E, ainda assim, me é reconfortante. Todos os dias que somos mulheres, não somos menos mulheres silentes em algum lugar. Somos filhas e mães, mulheres. Habituadas ao empuxo, e em seguida ao cair, gritar, calar.
Enquanto eu vou tecendo essa carta de trapos, minha filha chora. Acordou do sono da tarde. E ela ainda sabe gritar com garras, é tão belo. Não quero perder isso, nenhum degradê disso.
A vida é mesmo uma sucessão de perdas, você havia dito. E sinto que perdemos um tanto mais, sei lá. Mas, entre tantas palavras vãs e de ordem, quem de nós está sozinha? Estamos unidas, em essência, nos acolhendo ou nos empurrando para o abismo. De uma forma ou de outra, nos vemos como ninguém, não? Ninguém nos salvará de nós mesmas ou nos alçará à completa bestialidade como um outra mulher. A opressão masculina é mais surda, mais burra. Às vezes é constrangedor, não acha, esses soluços? Nos afogarmos todos os dias em monólogos masculinos. Tão circulares…
Não acha?
Sinto que nos esbarramos num corredor, eu te dei bom dia. E foi íntimo de um jeito ridículo. E você, altiva e distante conseguiu ser divertida - deve ser uma fã. Me deu uma edição de erros, autografada por um rabisco. Minha melhor crônica de contar no bar. Para homens, meio surdos, meio burros.
Desculpe a insolência, mas voltarei a te escrever. Mesmo que me mande ao inferno. (Certamente, eu iria).
Com estapafúrdia timidez,
Uma mãe em marcha
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