Sala de Espera

Todo mundo gosta de sexo, verdade seja dita. Na mesma medida, as vidas que arrastam suas cascas mais pudicas ou mais safadinhas, os corpos supostamente distintos ou os mais dispostos a leviandades. No fim, todos se contorcem, gemem e reviram os olhinhos. 

Por cima dos óculos, observo este moço de calça verde, bem justa. Um engomadinho, irritantemente sorridente. Partitura corporal meio assexuada. Enfim, uma grande bobagem. Gosta de levar umas pancadinhas de vez em quando e leva fotos sacaninhas no celular. 

Essa moça gorda de tranças mal feitas e sapato combinando com a blusa. Se debruça no balcão à espera de um café que, ela sabe, vai ser ruim. Levou 10 minutos para sentar ali, sozinha, e ainda se pergunta se não deveria ter feito uma outra escolha. Quer um sexo carinhoso, daquelas mentiras ditas ao pé do ouvido. Mas vai voltar para casa sozinha. De novo.

No mesmo balcão, mais próximo à janela, está Leila. Ouvi quando ela disse o nome ao senhor que a apresentou às filhas. Vizinhos, talvez. Ela é uma mulher séria, sem muitos atrativos e cores, mas definitivamente elegante. Não está totalmente satisfeita. Arrisco um palpite: trepa no escuro.

Eu, esse tédio cheio de gordura trans e asperezas. Vou me masturbar com Frank Sinatra, beber sozinho, depois de me aventurar num programa intelectual-hermético-qualquer-coisa que só vai me deixar mais puto e displicente. De qualquer modo, minhas expectativas são baixas. Imponho aquele falso ar enigmático, porém muito interessado. Folheio encartes com todo tipo de programação cultural enquanto fantasio comer a garçonete. Um clássico.

Saída do espetáculo. Senhoras, cocotinhas, homens de meia-idade, especialmente estes, vão passear pela cidade as suas couraças morais, esconder suas perversões. Sábado à noite, uma cervejinha. Talvez um vinho. Depois vão se lambuzar com o gozo dos outros, e com o próprio.

Eu, particularmente, espero que vão todos se foder!